Acidentes

Um trabalhador morreu e outro ficou gravemente ferido após o tombamento de um guindaste no Largo de São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas, principal cartão postal de Manaus. O acidente aconteceu na manhã de domingo (23), quando o equipamento fazia o içamento da estrutura da árvore de Natal gigante que anualmente é montada no local. As duas vítimas estavam penduradas no gancho do guindaste e dentro da estrutura içada. (Veja os vídeos abaixo).

Antônio Paulo Rodrigues de Souza, 40 anos, conhecido como Antônio Suricate, morreu devido aos ferimentos. Ele e o colega Henes Libório Ramos, 47 anos, aparecem pendurados na estrutura no momento do acidente. Henes sofreu fratura em uma das pernas e segue internado em estado estável.

Operador estava afastado pelo INSS

O guindaste era operado por Antônio Benjamin, contratado apenas para uma diária pela empresa. Ele estava afastado pelo INSS, recebia auxílio-doença e trabalhava fantasiado de Papai Noel, sem qualquer equipamento de proteção individual. Benjamin foi preso logo após o acidente e autuado em flagrante por homicídio culposo.

Segundo o delegado Marcelo Martins, do 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP), o operador relatou que começou a ouvir estalos na máquina durante a manobra. “Ele tentou realizar uma manobra para corrigir, mas já era tarde”, explicou o delegado. Questionado sobre a fantasia, Benjamin disse que “queria trabalhar de um jeito diferente, ideia totalmente dele”.

Crea aponta irregularidades técnicas

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Amazonas (Crea-AM) identificou diversas irregularidades. A empresa responsável não possuía registro para operar o guindaste no local e foi autuada. Na fiscalização anterior, foram apresentadas apenas Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) de elétrica e estruturas metálicas.

Segundo o Crea, até sexta-feira não havia operação de guindaste na área, apenas um caminhão-munck, também autuado. No domingo, nenhuma ART referente ao serviço executado no momento do acidente foi localizada no sistema. O plano de rigging, documento obrigatório que detalha a operação segura de içamento, também não foi apresentado.

Vítima já havia trabalhado em montagens anteriores

Antônio Suricate também participou da montagem da árvore de Natal em 2022. Na época, gravou um vídeo no alto de um guindaste, preso apenas por uma corda na ponta da lança e sem capacete. “Aqui não é pra quem quer, é pra quem tem coragem”, disse ele no vídeo gravado há três anos.

Socorro e primeiras providências

Um ex-militar da reserva e um médico que passavam pelo local prestaram os primeiros socorros. O Corpo de Bombeiros e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegaram na sequência. Segundo testemunhas, o acidente ocorreu por volta das 10h.

Segundo o laudo de necropsia do IML, Antônio Paulo sofreu edema cerebral, hemorragia craniana e traumatismo craniano, decorrentes da queda de altura provocada pelo tombamento. Os trabalhadores, naturais de Parintins, eram funcionários da empresa Cenart Arquitetura Artística.

Iphan determina paralisação das obras

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) determinou a paralisação da montagem da estrutura natalina por falta de aprovação prévia. O projeto de ornamentação, protocolado pelo Governo do Estado em 18 de novembro, ainda estava em análise técnica conforme os prazos legais.

“O Instituto reafirma seu compromisso de atuar de forma técnica, preventiva e cooperativa com as instituições, de modo a conciliar a preservação do patrimônio cultural com o uso seguro e responsável dos espaços históricos”, informou o órgão.

Manifestações oficiais

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa informou que a empresa contratada apresentou toda a documentação exigida para a montagem da árvore de Natal no local. As primeiras informações apontavam para falha operacional como causa do acidente.

O governador Wilson Lima lamentou profundamente o acidente e determinou apuração rigorosa de todas as circunstâncias do ocorrido. O Governo do Amazonas informou que está prestando assistência às vítimas e às famílias.

A empresa Cenart Arquitetura Artística manifestou solidariedade e classificou Antônio Paulo como “estimado membro da equipe”. A Polícia Civil, por meio do 24º DIP, instaurou inquérito para apurar as causas do acidente.

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