As notícias dessa editoria tratam de prisões de pessoas envolvidas com o tráfico de drogas, além de grandes apreensões.
Facções criminosas ampliaram controle e intensificaram a violência em três municípios do Amazonas. Coari, Iranduba e Tabatinga registram taxas de homicídios que superam em muito a média nacional, impulsionadas pela disputa entre Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).
Os dados fazem parte do relatório Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado nesta quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O estudo revela como a atuação de grupos criminosos pressiona moradores, alimenta disputas territoriais e impacta diretamente as rotas fluviais da região.
Coari: pirataria e homicídios em alta
Coari, cidade localizada no médio rio Solimões, registrou taxa média de 60,5 mortes violentas por 100 mil habitantes nos últimos três anos. O município figura entre os 20 mais violentos da Amazônia Legal.
Somente em 2024, foram 63 homicídios, um aumento de 65% em relação a 2023. Além das disputas entre PCC e Comando Vermelho, a cidade enfrenta pirataria fluvial e a atuação dos chamados “ratos d’água”, grupos que atacam embarcações e comércios flutuantes.
“Grupos que operam em escala local têm como principais alvos residências ribeirinhas, embarcações e comércios flutuantes. Sua atuação impõe um regime permanente de insegurança aos ribeirinhos e aos navegantes em geral”, afirma o pesquisador Queiroz de Oliveira no relatório.
A localização estratégica no rio Solimões transforma Coari em um corredor hidroviário para o escoamento de drogas provenientes do Peru e da Colômbia. Essa posição geográfica atrai a atenção das facções e alimenta os índices de violência.
Iranduba: reflexos da capital
Iranduba, município integrante da Região Metropolitana de Manaus, apresentou taxa trienal de 59,1 mortes violentas por 100 mil habitantes. A proximidade com a capital faz com que a cidade absorva dinâmicas de violência de Manaus.
O município registrou 62 vítimas em 2022 e 42 em 2023. Em 2024, houve forte queda, com 15 homicídios, redução de 76% em relação a 2022.
Segundo o estudo, Iranduba convive com a forte atuação do Comando Vermelho. Além da violência urbana, o município enfrenta crimes ambientais como desmatamento ilegal e queimadas, que se somam ao cenário de insegurança.
Tabatinga: tríplice fronteira e rotas do tráfico
Na tríplice fronteira com Peru e Colômbia, Tabatinga registrou taxa média de 57,6 mortes violentas por 100 mil habitantes entre 2022 e 2024. A cidade é considerada uma das principais portas de entrada de drogas no país pela chamada Rota do Solimões.
Em 2023, o município enfrentou uma disputa sangrenta entre facções. Porém, em 2024 houve redução para 31 homicídios, após a consolidação do Comando Vermelho como grupo dominante na região.
Reportagens e relatórios de inteligência já indicaram que a facção estabeleceu parceria com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) para ampliar sua atuação. Essa aliança facilita o acesso a laboratórios de pasta base e rotas fluviais controladas por grupos colombianos.
Fronteira aberta e controle fluvial
A fronteira seca entre Tabatinga e Letícia, na Colômbia, é descrita como completamente aberta. Pessoas, veículos e mercadorias cruzam livremente, sem controle migratório efetivo, facilitando o transporte de drogas, armas e valores.
Do lado peruano, localidades como Caballococha e Bellavista produzem pasta base de cocaína. Do lado colombiano, as plantações se concentram nas bacias dos rios Içá e Japurá. Todas as rotas convergem para o Solimões, de onde a droga segue para Manaus e outras regiões do Brasil.
O relatório alerta que o domínio hegemônico do Comando Vermelho reduziu confrontos abertos, mas mantém uma violência seletiva. Pontos de consumo de drogas se expandiram, e a presença da facção impõe controle territorial sobre comunidades ribeirinhas.
Expansão do crime organizado na Amazônia
A Amazônia Legal vive a maior expansão do crime organizado de sua história. Das 772 cidades da região, facções criminosas estão presentes em 344 municípios, um aumento de 32% em relação a 2024, quando estavam em 260 cidades.
No Amazonas, 25 dos 62 municípios (40%) têm presença de grupos de facções. O Comando Vermelho domina 23 deles, principalmente em cidades estratégicas para o tráfico ao longo das rotas fluviais dos rios Solimões, Negro, Javari, Içá e Japurá.
O número de vítimas de mortes violentas intencionais na Amazônia Legal foi de 8.047 em 2024. A taxa de 27,3 assassinatos por 100 mil habitantes é 31% superior à média nacional, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Violência atinge mulheres e populações vulneráveis
O relatório também aponta que 586 mulheres foram assassinadas na região em 2024, taxa 21,8% maior que a nacional. A violência sexual segue em alta, com 13.312 registros de estupro.
Segundo o estudo, o isolamento geográfico, a ausência do Estado e a presença de facções em garimpos e áreas de fronteira ampliam a vulnerabilidade de mulheres e povos indígenas. O controle territorial exercido pelas organizações criminosas alimenta ciclos de violência extrema.
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