Um dossiê produzido, vazado e reproduzido de forma criminosa, sem qualquer embasamento legal ou fato concreto, com claro uso eleitoreiro. Foi dessa forma que o prefeito de Manaus, David Almeida, e o vice, Marcos Rotta, se posicionaram diante de material anônimo tornado público há poucos dias, que tentou relacionar ambos a supostos integrantes de uma facção criminosa, que teriam apoiado a campanha vitoriosa de ambos, em 2020.
“Eu tenho uma vida limpa. Defendo a família, Deus e os princípios morais. Acordo quatro e meia (da madrugada) para trabalhar; esse dossiê não tem base legal nenhuma, tem pelo menos 34 inconsistências legais. Isso aqui é indignação de quem é atacado inocentemente. Chega de gracinha. É criminoso quem produziu, quem vazou e quem compartilha. Vou processar todos, são mais de 700 pessoas que fizeram uso político desse material criminoso nos últimos dias”, disparou o prefeito, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (27/10), realizada no auditório da sede da Prefeitura de Manaus.
Na ocasião, David Almeida também reproduziu dois curtos áudios em que traficantes falam com outra pessoa, que é apontado pelo dossiê como sendo o prefeito. A voz, o timbre, entretanto, é totalmente diferente da voz do prefeito.
O vice-prefeito Marcos Rotta, também citado no dossiê, não mediu palavras em sua indignação contra as denúncias infundadas: “Peço desculpas à população de Manaus por termos que perder tempo rebatendo algo tão absurdo. Poderíamos agora estar nas ruas, fazendo entregas à população. Conheço o David e sei do caráter dele, conhecido de todos. Um homem que louva a Deus. Um dossiê sem pé nem cabeça, sequer assinado. Essa gestão será a mais exitosa da história de Manaus e sabemos que isso incomoda”.
Após os pronunciamentos do prefeito e vice, o delegado federal Sérgio Fonte, secretário municipal de Segurança Pública e Ordem Social, explicou que a falta de assinatura é apenas uma das inconsistências legais do dossiê.
“SEM PÉ, NEM CABEÇA”
O material, destacou o secretário, que como delegado tem mais de 30 anos de experiência em diligências e investigações policiais, inclusive na área de inteligência, tem 63 páginas, mas em menos de seis linhas cita o prefeito e o vice-prefeito.
“O tal dossiê não tem origem, não identifica a autoridade que o solicitou. Da mesma forma não tem documento que explique como se chegou a um determinado celular, de onde teriam sido extraídos diálogos. E se foi conversa grampeada, não tem ordem judicial”, afirmou Sérgio Fontes, que acrescenta:
“Esse material mistura informações, parte do nada para chegar a lugar algum. E ao invés de subsidiar uma investigação da polícia judiciária (Polícia Civil), porque esse é o papel da Secretaria Adjunta de Inteligência do Estado (Seai), onde esse dossiê foi produzido, é encaminhado ao Ministério Público, sem qualquer conclusão. E de lá, não gerou nenhum inquérito, justamente por total inconsistência e base legal”.
O secretário lembrou ainda que no período em que o dossiê foi elaborado, a Seai era comandada por criminosos. Investigações do Ministério Público resultou na Operação Garimpo Urbano, que prendeu o então titular da Seai e outros policiais que atuavam no órgão. O grupo usava a estrutura do Estado para fazer grampos ilegais de telefones para extorquir e praticar crimes.
Sérgio Fontes disse que entre esta quinta-feira e amanhã, dia 28/10, a perícia sobre a voz nos diálogos, que é atribuída ao prefeito, será concluída. Segundo ele, demais medidas legais também já foram adotadas para se chegar a quem produziu o dossiê, que, na avaliação do próprio prefeito, é tornado público às vésperas da eleição de segundo turno “com o intuito de constranger autoridades”.
Vale lembrar que no atual processo eleitoral, David Almeida tem grande aprovação popular da gestão dele à frente da Prefeitura, na casa dos 80%, e que apoia o líder das pesquisas de intenção de voto, o governador Wilson Lima, candidato à reeleição.