Pessoas que se intitulam lideranças da invasão Monte Horebe, localizada nos fundos do residencial Viver Melhor, na zona norte, estão, de fato, na grande maioria, a serviço de facções criminosas que controlam o lugar.
Esses prepostos do crime, alguns que se dizem pastores religiosos, são os mesmos que comercializam lotes na invasão para traficantes. É o que releva as investigações dos serviços de inteligência das forças policiais do Estado, ao qual tivemos acesso.
Noventa por cento dos barracos do Monte Horebe, que avançam a cada dia sobre a Reserva Florestal Adolpho Ducke, estão vazios, a serviço de outra prática criminosa: a especulação imobiliária da terra.
Para o tráfico, isso pouco importa. Cada barraco representa R$ 40, taxa mensal que os donos dessas moradias são obrigados a pagar às facções criminosas.
Esse dinheiro financia a compra de armas e até mesmo o pagamento de advogados que defendem a manutenção da invasão, uma das maiores de Manaus. Frentes conservadoras também estão defendendo a manutenção da invasão.
Na sexta-feira, dia 28 de fevereiro, logo após o anuncio da reintegração da área, que se dará nesta segunda-feira, dia 2, os protestos se iniciaram. Primeiro no Residencial Viver Melhor, etapas 1 e 2, empreendimento vizinho a Monte Horebe, cujos moradores também vivem a mercê do terror imposto por traficantes.
E os protestos seguiram no sábado, dia 29 de fevereiro, e neste domingo, dia 1º de março, mesmo o Estado tendo sido claro, com anúncio na imprensa, de que as famílias que de fato precisam de moradia terão toda assistência social.
Um dos líderes das manifestações, e que tem dado entrevistas a blogs locais, é um “pastor” que possui histórico de estelionato na Justiça Amazonense.
Em denúncia registrada em 2013, ele foi acusado de enganar a proprietária de um terreno durante o processo de revenda de um imóvel.
Base do tráfico em Manaus
Vale lembrar que desde 2015, quando o Monte Horebe começou a ser ocupada, as forças policiais do Estado executam operações para combater o tráfico.
No decorrer de dezenas de operações, ao longo dos últimos anos, as unidades especiais da Polícia Militar já encontraram corpos, cemitério clandestino, inclusive um lugar conhecido como “Tribunal do Crime”. É para esse local que as vítimas dos traficantes são levadas para receberem a sentença de morte.
Na semana que passou, um dia antes do vice-governador Carlos Almeida anunciar a reintegração da área, a PM localizou o corpo de mais uma vítima do tráfico: do adolescente Elias Emanuel Alves Aquino, de 15 anos.
Em depoimento, o assassino confesso relatou à polícia que matou Elias a mando do tráfico. Antes de ser morto, o adolescente foi espancado e teve as orelhas arrancadas. A sessão de tortura terminou com a decapitação da vítima.