Além da foto e do laudo da perícia de local de crime, que mostram o corpo da soldado Deusiane Pinheiro com pés e mãos arrumados, arma distante um metro e meio na direção contrária a mão usada para se matar, e do tiro ter sido dado do lado esquerdo da cabeça, sendo que a mesma era destra, dois documentos que estão no processo contribuem para a tese de homicídio.
Um deles é a cópia do livro onde fica registrado o nome e a assinatura dos policias de serviço que pegaram armamento no dia da morte da PM, em 1º de abril de 2015. Dos oito policiais militares da guarnição, apenas o nome da soldado Deusiane não consta com a assinatura de retirada da arma.
Para a advogada da família e assistente de acusação, as armas entregues a polícia levantam suspeitas. “Entregaram a Polícia Civil uma arma dizendo que era a da Deusiane mas, na verdade, nem armada ela estava. No livro não consta assinatura dela”, disse Martha Gonzalez.
Outra prova, apontada pela advogada, de que houve uma “armação” para simular o suicídio de Deusiane, é o laudo pericial na arma do crime. A pistola estava com o ferrolho – que é a peça superior da arma puxada para colocar a munição na câmara de disparo – da arma do Cabo Elson Santos.
Ele, na época, tinha um caso extraconjugal com a soldado e teria sido a única testemunha do suposto suicídio. “É claro que trocaram o ferrolho para fraudar as provas”, defendeu a advogada.
Queima de arquivo
A morte de Deusiane completou cinco anos de impunidade nessa quarta-feira, dia 1º. Para a família, a soldado sabia demais e por isso foi morta.
“Certa vez ela me disse que havia muita madeira sem estar documentada. Ela foi orientada a fazer vista grossa, mas se negou” afirmou Antônia Assunção, mãe de Deusiane, recordando de um outro caso relatado pela filha. “Um colega dela uma vez virou para ela e perguntou: ‘como você acha que tenho Corolla e casa boa'”. Deusiane nunca contou quem era o “colega”.
Registro do pedido de socorro
Outro documento que consta do processo, ao qual tivemos acesso, é o Registro de Ocorrência do 20º Distrito Integrado de Polícia (DIP), acionado para ir ao local de crime.
A ocorrência só entrou no sistema às 6h37 da noite daquele dia 1º, mas a advogada da família insiste que a morte aconteceu entre 4h30 e 5h da tarde.
Esses e outros documentos ajudaram na decisão do Ministério Público Estadual (MPE) em denunciar, em 2017, o cabo Elson dos Santos como autor do tiro que matou a soldado Deusiane.
A reportagem tentou ouvir o cabo Elson dos Santos mas não obteve sucesso.