Imagens de conversas envolvendo empresários registradas em “prints” mostram a articulação realizada por comerciantes motivados a realizar novos protestos em Manaus, após a publicação do novo decreto governamental que regulamenta o fechamento do comércio não essencial no Amazonas. Atpe uma ameaça ao governador Wilson Lima (PSC) é proposta durante a conversa. As informações foram divulgadas em reportagem de revista Cenarium, nesta segunda-feira (4).
Além de novos protestos contra o governador do Estado, Wilson Lima, integrantes dos grupos também defenderam manifestação na porta da casa do juiz Leoney Figliuolo Harraquian, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), que determinou a suspensão das atividades, mesmo que fosse necessário o uso de força policial para isso.
Articulação política junto a deputados contrários às medidas também foi citado pelos integrantes, mas nenhuma das “ideias” chamou mais a atenção do que uma publicação sugerindo que o governador fosse baleado durante uma entrevista.
Tudo isso acontece no mesmo dia em que a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) anunciou a fase mais grave da pandemia, elevando, inclusive, o status de “vermelho” para o recém criado “roxo”, apontando o estado crítico das instalações de saúde e proliferação da Covid-19 no Estado.
Decisão, apoio e ‘bala’ no governador
A criticada decisão do TJ-AM atendeu a um pedido do Ministério Público do Amazonas (MP-AM), que se baseou nos comunicados de hospitais das redes públicas e privadas confirmando a superlotação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e o grande número de infecções, que já voltou a ultrapassar os 500 por dia
Em um dos grupos no aplicativo de mensagens Whatsapp, intitulado “MTA-Manaus”, dois integrantes comentaram sobre a possiblidade de conversar com deputados que fazem oposição ao governo estadual em busca de apoio aos protestos. Nomes como do do deputado estadual Pablo Oliva (PSL) e dos estaduais Wilker Barreto (Podemos) e Delegado Péricles (PSL) são citados. “Podemos traze-los para mais perto de nós (sic)”, diz um dos debatedores. O grupo também lembra que 2022 será ano eleitoral.
No mesmo grupo, outro integrante propõe que um atentado contra Wilson Lima. faz ameaças de morte ao governador Wilson Lima. “Seria muito bom que esse governador corrupto levasse uma bala durante uma coletiva de imprensa…”, diz o autor da postagem
Pressão sobre juiz
Em outro grupo de WhatsApp, chamado de “LockdownNão”, os integrantes discutem formas de pressionar pelo fim do fechamento do comércio não-essencial. Um dos membros fala em fazerem protestos na frente da casa do juiz. “Ele vai ficar doido…”, declarou.
Um áudio vazado mostra a intenção dos empresários em organizarem protestos em frente de supermercados, atacadistas, citando que a polícia não teria efetivo de controle.
“Tem que fechar as ruas principais da cidade, zona Leste. Tem que dividir. Até porque a polícia não tem efetivo”. Ele acabou sendo advertido por outro comerciante sobre o vazamento de áudio. “Muita cautela na divulgação desses áudios”, escreveu.
Procurados pela Revista Cenarium, os donos dos números que citaram as ameaças ao governador do Estado e ao juiz do Tribunal de Justiça do Amazonas negaram as mensagens e bloquearam o número da reportagem.
Crime e penalidade
A Lei 1.802/1953 prevê prisão para crimes contra o Estado e a Ordem Política e Social. No art. 6º, alínea “b”, parágrafo único da legislação, esse tipo de ameaça pode gerar uma pena de até 10 anos de prisão.
“Atentar contra a vida de do Vice-Presidente da República, Ministros de Estados, Chefes do Estado Maior Geral, Chefes do Estado Maior do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, Presidente do Supremo Tribunal Federal e da Câmara dos Deputados, Chefe do Departamento Federal de Segurança Pública“, e continua…
“Governadores de Estados ou de Territórios, comandantes de unidades militares, federais ou estaduais, ou da Polícia Militar do Distrito Federal, bem como, no território nacional, de representante diplomático, ou especial, de Estado estrangeiro com o fim de facilitar insurreição armada. Pena: – reclusão de 8 a 15 anos aos cabeças, e de 6 a 10 anos.”
Fase mais grave
Nesta segunda-feira a edição de nº 276 do Boletim Diário divulgado pela FVS traz o diagnóstico de 559 novos casos de Covid-19, totalizando 202.972 casos da doença no Estado. De acordo com o boletim, 183 pessoas foram hospitalizadas com a doença apenas nesta segunda.
Foram confirmados 23 óbitos por covid-19, sendo 14 ocorridos no domingo, 3. Nove óbitos foram encerrados por critérios clínicos, de imagem, clínico-epidemiológico ou laboratorial, elevando para 5.368 o total de mortes.
O boletim acrescenta, ainda, que 24.880 pessoas com diagnóstico de Covid-19 estão sendo acompanhadas pelas secretarias municipais de Saúde, o que corresponde a 12,26% dos casos confirmados ativos.