A enfermeira Mayara Coraci, de 36 anos, e o marido, o engenheiro Erik Coraci, de 42, foram presos em flagrante na quarta-feira, 12 de novembro de 2025, em Jundiaí (SP), suspeitos de maus-tratos contra os três filhos adotivos. O casal ganhou visibilidade nas redes sociais em 2024 após compartilhar que passou apenas seis horas na fila de adoção. A prisão expôs uma realidade de agressões sistemáticas que durava meses.
A denúncia partiu da escola de um dos meninos, de 10 anos, que acionou o Conselho Tutelar ao perceber que a criança faltava às aulas, apresentava lesões visíveis e dificuldade para andar. Uma conselheira encontrou o garoto com hematomas recentes na mão e na região lombar, além de relatos de dor intensa. O caso foi comunicado imediatamente ao Fórum e ao Ministério Público.
Relatos de tortura e privações
Segundo o boletim de ocorrência, o menino de 10 anos contou que foi agredido pela mãe com uma raquete e que sofria castigos físicos diariamente. Ele revelou que era forçado a passar as noites trancado em um escritório, apenas de roupa íntima, sem alimentação adequada e sem poder dormir. O menino também afirmou que o pai tinha conhecimento das agressões e, em alguns momentos, participava delas.
O irmão mais novo, de 8 anos, confirmou os relatos durante o atendimento e apresentou cicatrizes antigas pelo corpo. A irmã, de 4 anos, foi retirada do ambiente familiar por medida de proteção. As três crianças foram encaminhadas ao atendimento médico e, posteriormente, ao acolhimento institucional.
Exames revelam múltiplas fraturas
Durante o atendimento hospitalar, a vítima de 10 anos relatou outros episódios de violência, como arrancamento de cabelo, apertões na genitália, períodos de até 15 dias sem banho e privação de comida como forma de punição. O exame clínico identificou múltiplas fraturas e alterações abdominais, evidenciando a gravidade dos maus-tratos.
Em um dos episódios relatados, a mãe teria quebrado uma garrafa no braço da criança. A criança ficou internada no Hospital Universitário (HU) de Jundiaí para tratamento e avaliação médica completa.
Pais ficaram em silêncio na delegacia
Durante a oitiva no 1º Distrito Policial de Jundiaí, onde o flagrante foi formalizado, a conselheira tutelar informou que os pais permaneceram em silêncio e não demonstraram arrependimento ou emoção. Segundo testemunhas, a mãe teria se preocupado apenas com a possibilidade de visitas e com a rotina após o afastamento dos filhos.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) confirmou a prisão e informou que o casal permanece à disposição da Justiça. A defesa do casal, procurada pela imprensa, comunicou que não irá se manifestar no momento.
Da viralização à prisão
Mayara e Erik concluíram o processo de habilitação em janeiro de 2024, após cerca de um ano de curso obrigatório e entrevistas técnicas. Na manhã de 25 de janeiro, receberam a intimação que os incluía oficialmente no Sistema Nacional de Adoção. Horas depois, foram informados de que três crianças, irmãos biológicos, haviam sido selecionadas para o perfil do casal.
O primeiro encontro, que Mayara chamou de “parto dos meus filhos”, foi compartilhado em vídeo e viralizou nas redes sociais. Durante semanas, a família passou os dias juntos enquanto as crianças retornavam ao abrigo à noite. Eles oficializaram a adoção em 28 de novembro de 2024, dez meses após o encontro inicial.
O que é o Sistema Nacional de Adoção
O processo de adoção no Brasil exige que os interessados passem por um curso preparatório, entrevistas com assistentes sociais e psicólogos, e sejam incluídos no Cadastro Nacional de Adoção. O tempo de espera varia conforme o perfil desejado das crianças, como idade, número de irmãos e região. Casos como o do casal, que levaram apenas horas entre a inclusão no sistema e o contato com as crianças, são raros e geralmente ocorrem quando o perfil solicitado é mais amplo.
O casal havia informado que estava disposto a adotar dois filhos de até dez anos, independentemente de raça ou região do Brasil. Essa flexibilidade no perfil acelerou o processo de seleção das três crianças irmãs.
Desdobramentos do caso
O Conselho Tutelar acompanha o caso junto ao Ministério Público e ao Fórum de Jundiaí. As três crianças seguem em acolhimento institucional e recebem atendimento psicológico e médico. A investigação prossegue para apurar a extensão dos maus-tratos e definir as próximas medidas judiciais contra o casal.
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