Já são dez dias de um pesadelo que vem a mente todas as noites. “Toda vez que eu durmo e acordo eu penso que ele vai estar lá”, lembra Christiana Fátima Lira Nunes, de 21 anos, que no dia 2 de fevereiro acordou com um venezuelano nu, de pênis ereto, beijando seu pescoço. “Não façam justiça com as próprias mãos”, pede a universitária que procura pelo agressor, que desapareceu.
O caso aconteceu por volta do meio dia do domingo, dia 2, quando a universitária e um grupo de amigos iriam iniciar uma confraternização após um evento realizado na noite anterior e que entrou pela madrugada.
Eles estavam numa mansão alugada, localizada na avenida Professor Nilton Lins, no bairro Parque das Laranjeiras, na zona centro-sul de Manaus. No local, Christiana e os amigos promoveram um evento que se iniciou no sábado, dia 1º, e se estendeu até a manhã de domingo.
“Nós íamos aproveitar o after, que algo mais particular depois do evento. Mas como eu estava muito cansada devido já ter vindo de um outro evento que eu promovi na noite do dia 31, eu disse para o pessoal curtir que eu ia dormir em um dos quartos da mansão e que, quando eles terminassem e fossem embora, me chamassem”, contou a universitária.
Venezuelano
Segundo a vítima, o dono da mansão que eles alugaram para o evento mantinha um grupo de venezuelanos residindo no local e também “contratava” alguns outros – quando necessário – para fazer a limpeza e organização do espaço após o término dos eventos ali realizados.
“Quando eu entrei para um dos quartos todos eles viram”, recorda Christiana, enfatizando que entrou em um dos cômodos e se deitou no chão mesmo pois não haviam camas, apenas caixas e sacos depositados no local.
Segundo Christiana, entre meio dia e 1h da tarde ela acordou com um homem beijando seu pescoço, nu, de pênis ereto em cima dela.
“Eu empurrei ele para sair de cima de mim e tentei gritar, mas eu estava completamente rouca. Foi quando senti um dor forte na região da minha pélvis e percebi que estava sem calcinha. Ai eu fui pra cima dele porque eu queria matar ele”, afirmou Christiana.
Amigos
Christiana e o venezuelano brigaram e ele teria lhe empurrado em cima de lâmpadas que estavam no chão. Foi quando ela teria começado a sangrar e ele se trancou em um banheiro do quarto onde teria acontecido o abuso sexual.
“Eu saí de lá transtornada e peguei um gargalo de garrafa pra matá-lo. Ainda mais depois que ele ficou mentindo dizendo que só tinha entrado no quarto onde eu estava para fazer cocô. Eu fique mais revoltada, mas meus amigos mandaram ele ir embora”, lembrou a universitária.
Somente nesse momento foi que ela conseguiu contar o que tia acontecido. Os amigos e os outros venezuelanos teriam ficado revoltados, tanto que os colegas do suspeito foi que entregaram uma foto dele para Christiana e lhe informaram como ele se chamava.
Redes Sociais
Em choque com tudo o que havia acontecido, a universitária pediu para ir embora do local pois queria tomar um banho e se limpar.
“Eu não sei o que aconteceu comigo, mas eu só queria ir embora. Eu cheguei na casa da minha amiga, tomei um banho e apaguei. Esse foi meu erro”, justificou Christiana ao lembrar que por não ter ido no mesmo dia a delegacia e nem chamado a polícia na hora do fato, o suspeito ainda está a solta e o exame que comprovaria a conjunção carnal deu negativo, devido ter sido feito somente 24 horas após o fato.
Mesmo assim ela abriu denuncia no 12º Distrito Integrado de Polícia, no mesmo bairro onde ocorreu a violência sexual, e logo depois foi as redes sociais e decidiu contar seu drama e se expor.
“Eu resolvi me expor por que as mulheres tem que entender que nós não temos que ter vergonha. Nós somos vítimas e não culpadas. Se o meu rosto aparecendo incentivar outras mulheres a fazerem os processos judiciais contra seus abusadores, não tem problema”, afirmou enxugando as lágrimas num misto de dor e raiva.
Assim que Christiana abriu sua história nas redes sociais, rapidamente o caso viralizou. Mais de mil pessoas interagiram com ela levando mensagens de apoio e também de ódio e vingança. “Eu quero que ele pague na Justiça o que ele fez comigo. Eu peço que não façam justiça com as próprias mãos”, pediu.
Investigação
Como o caso foi registrado tardiamente na delegacia, o suspeito desapareceu. Mas o delegado Raul Neto, titular do 12º DIP, informou que aguardo o laudo definitivo dos exames feitos na vítima e, enquanto isso, já ouviu testemunhas.
“O dono da mansão está colaborando. Nós já ouvimos outras testemunhas e estamos trabalhando”, garantiu o delegado.
O suspeito foi identificado pela vítima como tendo o nome Samuel e que viveria pelas imediações da rodoviária de Manaus, em Flores. Por lá os venezuelanos que viram a foto dele disseram terem visto o rapaz há aproximadamente um mês, como mostrou uma reportagem exibida pela Record TV Manaus, no programa Balanço Geral, apresentado pelo jornalista Clayton Pascarelli, nessa terça-feira, dia 11.
Drama
Essa é a segunda vez que Christiana sofre abuso sexual. Na adolescência, quando tinha 12 anos, um parente a molestou. A ferida vinha cicatrizando ao longo desses nove anos, mas foi reaberta e, dessa vez, ela ainda vive o drama de ainda não saber se contraiu alguma doença do abusador.
“Eu não tenho a certeza que ele me penetrou, pois eu estava dormindo. Só sei que senti essa dor na região pélvica quando eu acordei. E se ele de fato penetrou em mim? Eu não sei se peguei alguma doença. É uma angústia ter que esperar o resultado dos exames. Enquanto isso vou tomando os remédios”, disse Christiana visivelmente desesperada.
Desde o fato, a universitária toma um coquetel de remédios para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e ainda remédios tarja preta para dormir.
“Estou tentando levar uma vida normal, mas está difícil. Eu penso nisso a todo momento. Eu só quero que ele seja preso por que enquanto estiver solto outras mulheres podem estar sendo vítimas dele”, desabafou.
Christiana é universitária de língua portuguesa na Universidade Federal do Amazonas.