Alexandra Soares da Silva de Souza, de 46 anos, é vigilante da empresa Millenium Segurança Patrimonial. No dia 27 de setembro, durante o expediente, ela diz ter sido assediada sexualmente por seu superior dentro de um posto abandonado da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev), na zona Sul de Manaus. Ela denunciou o caso aos patrões, à polícia e ao sindicato mas até agora nada aconteceu.
“Estou sem respostas. Pedi minha demissão porque não tenho mais condições de trabalhar. Estou sem condições psicológicas”, desabafou ela que, até o último dia 12 ainda não havia recebido seu salário do mês e nem tido resposta para seu pedido de demissão.
Como aconteceu?
Segundo Alexandra, o assédio aconteceu duas vezes. A primeira foi no dia 27 de setembro. Ela estava em casa quando recebeu um áudio de seu inspetor, lhe perguntando se poderia tirar serviço no posto da DataPrev, localizado no bairro Cachoeirinha. Mesmo tendo estranhado o final do áudio, ela aceitou e foi para o local.
Segundo ela, por volta das 14h o inspetor Orleilson Coimbra chegou no posto de serviço e perguntou da vigilante se ela teria feito ronda no local. Alexandra respondeu que sim e ele perguntou uma segunda vez. Mesmo após outra resposta afirmativa, o inspetor teria pedido que ela o acompanhasse no segundo andar do prédio abandonado. Apesar de achar estranho, a vigilante diz que acompanhou o superior.
Ao chegarem no segundo andar, a vigilante relata que o inspetor abriu as portas que estavam fechadas e entrou em uma delas. Orleison teria estendido a mão para Alexandra chamando-a para dentro, mas ela perguntou do que se tratava. Segundo ela, o superior sorriu e perguntou se ela estava com medo.
“Então ele me puxou pelo colete, me desarmou e foi me abraçando e me mandando ficar de quatro em uma mesa que tinha na sala. Eu dizia pra ele me soltar; dizia para ele me largar e fui para luta corporal com ele. Eu fiquei péssima. Foi horrível”, relatou Alexandra, que no dia seguinte entrou de férias e preferiu guardar em segredo o acontecido.
Segunda tentativa
Após um mês de férias, Alexandra retornou ao trabalho. No dia 2 de novembro ela recebe uma ligação de Orleilson pedindo para a vigilante tirar serviço na agência da Caixa Econômica da rua Barroso, no Centro de Manaus. Ela achou estranho porque naquele dia estava na escala de outro inspetor, mesmo assim aceitou o pedido do superior.
Poucas horas após assumir o serviço a vigilante teve uma crise de pânico e ligou para o Orleilson pedindo para ir embora. “Eu lembrei de tudo o que aconteceu da outra vez e me desesperei; comecei a chorar e liguei pra ele para dizer que não estava me sentindo bem, mas ele disse que eu tinha acabado de voltar das férias e não estava entendendo meu comportamento”, relatou Alexandra.
Após a ligação, Orleilson levou outro vigilante para o lugar de Alexandra e disse que ela iria para o posto de serviço localizado no Museu do Porto, um galpão abandonado na orla da cidade.
Alexandra relata que, mesmo com medo, foi com o superior para o novo local de serviço. “Assim que nós chegamos ele me puxou de novo, colocou a mão por dentro da minha blusa e tentou me beijar a força. Nesse momento eu pensei em pegar minha arma e atirar, mas não consegui. Só pensava em meus filhos, no meu marido, na minha família”, lembrou.
Após esse novo episódio, a vigilante teve coragem de desabafar com outros colegas. Foi então que ela resolveu denunciar o caso.
Primeiro ela procurou o responsável pela empresa, que ela identificou como major Fernando. Segundo Alexandra, ele lhe orientou a registrar o caso na polícia e se mostrou receptivo em resolver a situação dentro da empresa. Tanto que no dia 17 de novembro a vigilante esteve no 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP) para registrar um boletim de ocorrência de importunação sexual.
Contudo, após isso ela diz ter sido bloqueada pelo patrão no aplicativo de mensagens e, com medo de sofrer novos abusos, parou de ir trabalhar e resolveu pedir demissão. “Eu não consigo mais vestir a farda que um dia eu tive tanto orgulho”, afirma.
O que diz a empresa
Procurada pelo Policia 24h, a empresa Millenium Segurança Patrimonial se pronunciou por meio de uma nota, dizendo que o funcionário citado na denúncia pediu demissão e que uma sindicância foi aberta para apurar os fatos. A empresa finalizou dizendo que o jurídico está cuidando de todos os detalhes.
O inspetor Orleilson Coimbra foi procurado para se pronunciar a respeito das denúncias mas ele não atendeu as ligações e nem retornou as mensagens via whatsapp.
A Polícia Civil informou que o caso foi transferido para o 22º DIP e a delegada titular Juliana Tuma aguarda o comparecimento da vítima para dar prosseguimento a apuração do caso.
Até a publicação da reportagem, Alexandra ainda não tinha procurado o 22º DIP alegando medo.